O Galaxie mais rápido!!
Hoje não sou eu quem irei contar uma história do Galaxie, e sim o cara que mais entende do assunto: Sr. Luiz Francisco Baptista, o nosso Baptista da Automotor de São Paulo que dispensa apresentações.
Vamos a história:
" Um dia fui para Interlagos (Autódromo Chico Landi na minha opinião ) com meu amigo Arnaldo Abdalla assistir uma prova da Turismo 5.000, onde os carros participantes eram na grande maioria Mavericks mas havia também haviam alguns Dodges. A maior parte deles (na época) corria com tudo original e só o escapamento era removido. Alguns participantes usavam os carros no dia a dia.
Mas ver uma largada com cerca de 35 a 40 “V-Oitos” passando em frente da arquibancada onde estávamos era algo indescritível, de arrepiar. Foi aí que comentei com meu amigo: “Vou fazer um carro para participar desta categoria!”
Resolvi escolher um Galaxie apesar de saber do peso exagerado do carro e da aerodinâmica também desfavorável, mas ele queria algo diferente e também já tinha um que estava na Automotor e era um “doador”.
Era um Landau com Bancos de Couro, teto de vinil e estava completo. Comecei a aliviá-lo. Como eu tinha pouco tempo disponível, sempre fiz meus carros de competição trabalhando aos sábados, domingos e feriados. Quando aparecia alguém querendo comprar alguma peça do carro eu dizia: “se você retirá-la não precisa pagar por elas”, e assim levaram direção hidráulica completa, bancos, laterais da porta, maçanetas, frisos, emblemas, etc. E assim com a ajuda do meu funcionário Dirceu funileiro, demos sequencia a empreitada. Cortamos as portas traseiras deixando somente as folhas externas que foram soldadas na carroceria, depois de removidos também dobradiças, trincos, batentes, etc. As portas dianteiras tiveram seus vidros, máquinas e parte da estrutura interna removidos. As forrações de assoalho, teto, parede de fogo, etc. foram também eliminados. O revestimento tipo under-seal foi raspado, os para-lamas internos, buzinas, instalação elétrica, desembaçador, ar condicionado, faróis, lanternas, suportes, saias, para-choques dianteiro e traseiro, painel de instrumentos e coluna de direção também foram dispensados sem aviso prévio.
O Capô do motor teve a armação (esqueleto) retirado, ficou só a folha sem as dobradiças. A tampa da mala, dobradiças e trincos também saíram e deram lugar a uma folha de alumínio. A grade do radiador, no principio foi trocada por uma do galaxie 67 que é muito mais leve. Comprei um banco de alumínio e que era de um pequeno avião e estava em um desmanche. Naquela época ninguém usava bancos de alumínio.
O Galaxie chegou a participar de algumas provas com a configuração acima. Depois eliminei a grade e fechei a frente toda deixando uma pequena abertura para o radiador. Cortei as duas caixas de estribo onde as colunas “a”, “b” e “c” são fixadas e soldei tudo diretamente no chassi.
O fechamento em forma de “u” invertido que cobrem as longarinas do chassi foram eliminados e o assoalho que ficou solto foi também soldado diretamente no chassi.
Transformei o carro em um monobloco, só que na hora de soldar as partes mencionadas no chassi, desloquei a carroceria toda para a esquerda. Coloquei o tanque original a 45º atrás do banco do piloto, assim como extintor, bateria. Com tudo isso mais o deslocamento da carroceria, consegui uma distribuição de peso com porcentagem do lado esquerdo muito maior do que a do lado direito. Tudo porque o anel esterno só tinha curvas para a esquerda.
Os participantes usavam os freios dianteiros originais na traseira, colocavam discos das Alfa 2300 com pinças de Brasilia. O Galaxie já vinha de fábrica com discos maiores do que os do Maverick e os do Dodge que vinham com rodas 14”. A grande distância entre eixos do Galaxie junto com os freios fizeram com que este carro freasse e contornasse melhor que os demais.
Ficando as grandes desvantagens a aerodinâmica e o peso, aliviei também a pedaleira, eliminei o sistema completo da direção hidráulica que foi substituída por caixa mecânica do modelo STD, molas e amortecedores foram retrabalhados, o hidro vácuo foi eliminado, sistema de freio de estacionar foi removido, ar condicionado, desembaçador, isolantes térmicos e acústicos.
Depois de algumas provas á frente foi carenada, o assoalho da mala eliminado e no lugar foi feito um túnel de alumínio que era um grande extrator de ar e foi colocada também uma pequena asa, era a única que consegui, que foi fixada na traseira.
O Galaxie ficou muito bom de correr graças à distribuição de pesos, distância entre eixos, bitola e as modificações de suspensão e da aerodinâmica. Também freava bem porque tinha discos dianteiros (de fábrica) maiores do que os dos concorrentes. Os discos dianteiros eram originais, já os traseiros, como quase todos participantes, eram de Alfa 2300 com pinças de Brasilia. Por incrível que pareça, consegui deixar o Gálaxie com menos de 1200 kg, era mais leve que alguns Mavericks. O que não dava para melhorar muito era a aerodinâmica cuja caixa era (original) 056.
Com relação ao motor, fizemos os primeiros testes com um 272 de um caminhão de feira e com câmbio de 3 marchas, depois conseguimos um 292 com vira do 312 de um Mercury 56 e já com câmbio de Maverick 4 marchas. Finalmente colocamos o 302 que era o melhor de todos para competição.
Quando ficou pronto emprestei o carro para diversos pilotos como o Marazzi, João Videira, Arnaldo Abdalla, Denisio Casarini, Bolota; até que acabei trocando o Galaxie com o Maverick do Abdalla (a pedido dele), que pilotou diversas provas até que infelizmente veio a falecer. O irmão dele, Roberto Abdalla, emprestou o carro e eu coloquei o motor do meu Maverick 4 portas e emprestei para o Casarini e foi a mais memorável e última prova do Galaxie. Classificou em terceiro. Na largada saiu em primeiro, liderou umas 3 ou 4 voltas até que quebrou o câmbio.
Pra mim foi uma grande satisfação ver o carro que sempre foi desacreditado pelos participantes, provar que poderia ser competitivo. Alguém filmou essa prova (ultima) e está na internet. Mas foi o resultado de (preparação) trabalho pelo menos 10 vezes maior do que os dos Mavericks.
Enfim, o Galaxie foi vendido para um garoto que rodou com ele, nas madrugadas “tirando rachas” e “desfilando”. Consta que ele levou o Galaxie para uma oficina para pintar de outra cor (que era branco desde o começo). E chegou até mim a história de que um caminhão sem freios caiu em cima do telhado da oficina (que ficava abaixo do nível da rua) que veio abaixo, justamente sobre o Galaxie. Enfim, o carro ficou destruído, algumas partes que se salvaram como freios, escapamento, câmbio e diferencial foram para um Galaxie 500- 1967 (de rua) e este chegou a participar de uma prova de velocidade máxima no aeroporto de São José dos Campos onde teria ultrapassado os 200 KPH".
Sr. Baptista, demorou um pouco mas eu consegui encontrar o vídeo e confesso que me arrepiei ao ver ele! Que momento!! Sem palavras:
Aqui o momento da Largada:
E aqui segue o vídeo completo no YouTube com os créditos para quem fez o upload dele:
https://www.youtube.com/watch?v=TgNBDCcamrc
A Corrida em si começa aos 9:30 do vídeo, mas antes podemos ter uma ideia do que foi o dia, preparativos, afinamento de motores com bases de carburador longas para aumentar o torque em baixa para retomadas. Que nostalgia bacana!
Uma pena que esse astro das pistas tenha tido um fim tão trágico... :(
Sr. Baptista, como sempre foi um prazer em poder bater um papo com o senhor, conversar sobre o passado, sobre o futuro dos nossos queridos automóveis. Gostaria de estar aí no Brasil mais vezes para podermos conversar mais vezes e poder ver coisas de carros "estranhos" e originais que ninguem conhecia como aquele LTD sem vinil no teto. Jamais esquecerei do presente que me deu, e ele estará com meu carro até o fim dos meus dias uma vez que não irei vendê-lo.
Muito obrigado e a minha promessa será cumprida! Eu vou escrever o livro com a história do Galaxie e o Sr, seu Galaxie de corrida estarão nele com a maior certeza do mundo. Obrigado por tudo que o senhor fez e faz pelo Galaxie. Te admiro muito!
Um GALAXIE ABRAÇO!!!
Vamos a história:
O Galaxie de corrida |
" Um dia fui para Interlagos (Autódromo Chico Landi na minha opinião ) com meu amigo Arnaldo Abdalla assistir uma prova da Turismo 5.000, onde os carros participantes eram na grande maioria Mavericks mas havia também haviam alguns Dodges. A maior parte deles (na época) corria com tudo original e só o escapamento era removido. Alguns participantes usavam os carros no dia a dia.
Mas ver uma largada com cerca de 35 a 40 “V-Oitos” passando em frente da arquibancada onde estávamos era algo indescritível, de arrepiar. Foi aí que comentei com meu amigo: “Vou fazer um carro para participar desta categoria!”
Resolvi escolher um Galaxie apesar de saber do peso exagerado do carro e da aerodinâmica também desfavorável, mas ele queria algo diferente e também já tinha um que estava na Automotor e era um “doador”.
Era um Landau com Bancos de Couro, teto de vinil e estava completo. Comecei a aliviá-lo. Como eu tinha pouco tempo disponível, sempre fiz meus carros de competição trabalhando aos sábados, domingos e feriados. Quando aparecia alguém querendo comprar alguma peça do carro eu dizia: “se você retirá-la não precisa pagar por elas”, e assim levaram direção hidráulica completa, bancos, laterais da porta, maçanetas, frisos, emblemas, etc. E assim com a ajuda do meu funcionário Dirceu funileiro, demos sequencia a empreitada. Cortamos as portas traseiras deixando somente as folhas externas que foram soldadas na carroceria, depois de removidos também dobradiças, trincos, batentes, etc. As portas dianteiras tiveram seus vidros, máquinas e parte da estrutura interna removidos. As forrações de assoalho, teto, parede de fogo, etc. foram também eliminados. O revestimento tipo under-seal foi raspado, os para-lamas internos, buzinas, instalação elétrica, desembaçador, ar condicionado, faróis, lanternas, suportes, saias, para-choques dianteiro e traseiro, painel de instrumentos e coluna de direção também foram dispensados sem aviso prévio.
O Capô do motor teve a armação (esqueleto) retirado, ficou só a folha sem as dobradiças. A tampa da mala, dobradiças e trincos também saíram e deram lugar a uma folha de alumínio. A grade do radiador, no principio foi trocada por uma do galaxie 67 que é muito mais leve. Comprei um banco de alumínio e que era de um pequeno avião e estava em um desmanche. Naquela época ninguém usava bancos de alumínio.
O Galaxie chegou a participar de algumas provas com a configuração acima. Depois eliminei a grade e fechei a frente toda deixando uma pequena abertura para o radiador. Cortei as duas caixas de estribo onde as colunas “a”, “b” e “c” são fixadas e soldei tudo diretamente no chassi.
Aqui já sem a Grade e a frente apenas com abertura para o Radiador - Detalhe para a tala da roda dianteira! Maravilhoso! |
O fechamento em forma de “u” invertido que cobrem as longarinas do chassi foram eliminados e o assoalho que ficou solto foi também soldado diretamente no chassi.
Transformei o carro em um monobloco, só que na hora de soldar as partes mencionadas no chassi, desloquei a carroceria toda para a esquerda. Coloquei o tanque original a 45º atrás do banco do piloto, assim como extintor, bateria. Com tudo isso mais o deslocamento da carroceria, consegui uma distribuição de peso com porcentagem do lado esquerdo muito maior do que a do lado direito. Tudo porque o anel esterno só tinha curvas para a esquerda.
Os participantes usavam os freios dianteiros originais na traseira, colocavam discos das Alfa 2300 com pinças de Brasilia. O Galaxie já vinha de fábrica com discos maiores do que os do Maverick e os do Dodge que vinham com rodas 14”. A grande distância entre eixos do Galaxie junto com os freios fizeram com que este carro freasse e contornasse melhor que os demais.
Ficando as grandes desvantagens a aerodinâmica e o peso, aliviei também a pedaleira, eliminei o sistema completo da direção hidráulica que foi substituída por caixa mecânica do modelo STD, molas e amortecedores foram retrabalhados, o hidro vácuo foi eliminado, sistema de freio de estacionar foi removido, ar condicionado, desembaçador, isolantes térmicos e acústicos.
Depois de algumas provas á frente foi carenada, o assoalho da mala eliminado e no lugar foi feito um túnel de alumínio que era um grande extrator de ar e foi colocada também uma pequena asa, era a única que consegui, que foi fixada na traseira.
O Galaxie ficou muito bom de correr graças à distribuição de pesos, distância entre eixos, bitola e as modificações de suspensão e da aerodinâmica. Também freava bem porque tinha discos dianteiros (de fábrica) maiores do que os dos concorrentes. Os discos dianteiros eram originais, já os traseiros, como quase todos participantes, eram de Alfa 2300 com pinças de Brasilia. Por incrível que pareça, consegui deixar o Gálaxie com menos de 1200 kg, era mais leve que alguns Mavericks. O que não dava para melhorar muito era a aerodinâmica cuja caixa era (original) 056.
Com relação ao motor, fizemos os primeiros testes com um 272 de um caminhão de feira e com câmbio de 3 marchas, depois conseguimos um 292 com vira do 312 de um Mercury 56 e já com câmbio de Maverick 4 marchas. Finalmente colocamos o 302 que era o melhor de todos para competição.
Quando ficou pronto emprestei o carro para diversos pilotos como o Marazzi, João Videira, Arnaldo Abdalla, Denisio Casarini, Bolota; até que acabei trocando o Galaxie com o Maverick do Abdalla (a pedido dele), que pilotou diversas provas até que infelizmente veio a falecer. O irmão dele, Roberto Abdalla, emprestou o carro e eu coloquei o motor do meu Maverick 4 portas e emprestei para o Casarini e foi a mais memorável e última prova do Galaxie. Classificou em terceiro. Na largada saiu em primeiro, liderou umas 3 ou 4 voltas até que quebrou o câmbio.
Pra mim foi uma grande satisfação ver o carro que sempre foi desacreditado pelos participantes, provar que poderia ser competitivo. Alguém filmou essa prova (ultima) e está na internet. Mas foi o resultado de (preparação) trabalho pelo menos 10 vezes maior do que os dos Mavericks.
Enfim, o Galaxie foi vendido para um garoto que rodou com ele, nas madrugadas “tirando rachas” e “desfilando”. Consta que ele levou o Galaxie para uma oficina para pintar de outra cor (que era branco desde o começo). E chegou até mim a história de que um caminhão sem freios caiu em cima do telhado da oficina (que ficava abaixo do nível da rua) que veio abaixo, justamente sobre o Galaxie. Enfim, o carro ficou destruído, algumas partes que se salvaram como freios, escapamento, câmbio e diferencial foram para um Galaxie 500- 1967 (de rua) e este chegou a participar de uma prova de velocidade máxima no aeroporto de São José dos Campos onde teria ultrapassado os 200 KPH".
Turismo 5000 - Interlagos dia 31/10/1982 |
Sr. Baptista, demorou um pouco mas eu consegui encontrar o vídeo e confesso que me arrepiei ao ver ele! Que momento!! Sem palavras:
Aqui o momento da Largada:
E aqui segue o vídeo completo no YouTube com os créditos para quem fez o upload dele:
https://www.youtube.com/watch?v=TgNBDCcamrc
A Corrida em si começa aos 9:30 do vídeo, mas antes podemos ter uma ideia do que foi o dia, preparativos, afinamento de motores com bases de carburador longas para aumentar o torque em baixa para retomadas. Que nostalgia bacana!
Uma pena que esse astro das pistas tenha tido um fim tão trágico... :(
Sr Baptista no seu habitat natural, em sua oficina junto ao Galaxie |
Sr. Baptista junto ao Small Block Ford |
Sr. Baptista, como sempre foi um prazer em poder bater um papo com o senhor, conversar sobre o passado, sobre o futuro dos nossos queridos automóveis. Gostaria de estar aí no Brasil mais vezes para podermos conversar mais vezes e poder ver coisas de carros "estranhos" e originais que ninguem conhecia como aquele LTD sem vinil no teto. Jamais esquecerei do presente que me deu, e ele estará com meu carro até o fim dos meus dias uma vez que não irei vendê-lo.
Muito obrigado e a minha promessa será cumprida! Eu vou escrever o livro com a história do Galaxie e o Sr, seu Galaxie de corrida estarão nele com a maior certeza do mundo. Obrigado por tudo que o senhor fez e faz pelo Galaxie. Te admiro muito!
Um GALAXIE ABRAÇO!!!
Que matéria, hoje sou proprietário de um galaxie 73 com muito orgulho e assistindo essas matérias me emociona , meu Carango tem bastante coisa pra fazer pra chegar em um nível desejado mas, com todas essas informações sobre galaxie percebo que estou no caminho certo! Parabéns ao escritor, e muito obrigado por compartilhar!
ResponderExcluirJá havia tido contato com o vídeo da prova ocorrida em Interlagos. Apesar de emocionante por si só, o relato do Sr. Baptista o enriqueceu de uma forma singular! Agradeço por mais essa contribuição à memória dos nossos amados Galaxies, Valter!
ResponderExcluirCom perdão da intromissão e fuga do tema, permitiria um pedido?
Poderia abordar em um futura publicação os códigos de plaqueta para as cores da linha Galaxie, caso possível? estou montando uma planilha contendo os tons originais e os seus respectivos códigos ao longo dos anos, visando facilitar a sua identificação por colecionadores e apaixonados pelo modelo, mas careço de fontes confiáveis, principalmente quanto a geração de 1973-75.
Abraços!
Luidi, estou criando essa tabela para o Livro que estou escrevendo. Ainda nao tenho ela completa, mas uma vez que eu completar eu vou fazer ela publicada no livro, que será um manual de restauração e que contará a história de toda a linha e modelos.
ExcluirEu tenho aqui na minha estante uma miniatura 1:43 desse Galaxie de Corrida, dessa reportagem.
ResponderExcluirÉ uma miniatura da Automodelli, Edição Limitada, muito bem detalhada e fiel ao modelo das fotos. Até onde sei teriam sido fabricadas somente 20 unidades, acompanhadas de um certificado de originalidade numerados de 1/20 até 20/20.